O que é psicologia - Resumo do Livro
O QUE É PSICOLOGIA1
A abordagem da escritora inicia-se com uma série de questões relacionadas com o indivíduo e sua relação com o que o cerca, considerando essas questões muito mais antigas que a própria escrita. Acredito que a pergunta mais conflitante seja “Quem sou eu?” – Pag. 7, tendo em vista ser uma pergunta de difícil resposta considerando a pluralidade dos indivíduos que compõem uma sociedade e considerando que todo indivíduo é influenciado por esta sociedade em vários aspectos. Embora as respostas sejam diferentes em lugares e épocas, essa preocupação de relacionamento do homem com outro homem e lugar é sempre presente.
Se no passado estas questões surgiam o tempo todo, no mundo moderno elas se tornaram mais constantes e generalizadas, fazendo com que problemas existentes somente em determinados momentos da vida do indivíduo, se generalize por toda sua vida.
Essas inquietações, aliada ao fato de que nem sempre é possível externá-las, acaba por gerar distúrbios emocionais que acabam refletindo no organismo do individuo.
A Psicologia tentar solucionar estes distúrbios emocionais que geram sintomas no organismo do individuo, através da tentativa de compreender o homem como um todo e seu relacionamento com o outro.
A princípio, a partir de conceitos oriundos da Grécia antiga, a Psicologia era uma ciência que estudava a alma, e durante séculos foi assim que ela existiu. René Descartes rompe com esse conceito e teorizava que havia uma distinção entre corpo e mente. Para ele “a realidade consistia em duas áreas distintas: o domínio físico do material e o reino imaterial da mente”2. Descartes acreditava também, que em alguns momentos as atividades humanas eram decorrentes da interação da mente e do físico. Entre essas atividades havia a sensação, a imaginação e o instinto.
Por volta do séc. XVII/XIX, duas formas de pensar foram estabelecidas: o Empirismo Inglês, que acreditava que todo o conhecimento se baseava nas sensações, e o Racionalismo Alemão, que acreditava que a mente teria o poder de gerar idéias, independentemente da estimulação sensorial. Todo o conhecimento se basearia desta forma, na razão, e a percepção seria um processo seletivo.
Com campo próprio de estudo, a Psicologia se preocupa com o Homem. Segundo Lauro de Oliveira Lima a Psicologia individual pode ser considerada como “Microssociologia”. Para ele, “não é possível observar o ser humano senão através de momentos nos quais se encontra em interação”. Nesse caso, os fenômenos psicológicos são sempre estruturais e estruturantes, pois uma relação humana, sendo circular, tende a criar uma estrutura. Desta forma a Psicologia invade as fronteiras da sociologia. Sendo o indivíduo um organismo em ação, o campo da Biologia também está presente nos estudos da Psicologia.
A psicologia estuda comportamento humano e animal. O estudo do comportamento do animal irracional oferece bases importantes para a compreensão do comportamento humano, porém não se pode ignorar que as reações do ser humano e de qualquer ser irracional são totalmente diferentes tendo em vista que o homem é peculiar em suas manifestações com o meio e com outro individuo. Em síntese, a Psicologia é o estudo do comportamento e especificamente no trabalho da autora, trata-se do estudo do comportamento humano.
O campo da Psicologia é extenso e tenta responder várias questões.3
A psicologia, através do estudo científico do comportamento quer alcançar três objetivos: a descrição, a predição e o controle do comportamento. A descrição é a etapa do estudo científico do comportamento que se refere à necessidade de tornar claras as condições nas quais o fenômeno ocorre, sem qualquer significado. A predição é a etapa do estudo científico do comportamento em que o estudante do fenômeno é capaz de prever o que acontecerá a cada passo de seu estudo. O Exemplo disso é quando se condiciona um rato de laboratório a receber alimento toda vez que pressiona uma determinada alavanca. O controle do comportamento é a etapa do estudo científico do comportamento onde o objetivo é controlar ou manipular o comportamento do indivíduo. Um exemplo muito comum dessa etapa se dá quando uma determinada propaganda induz um comportamento diferente por parte do povo que a assiste.
O HOMEM: UM SER ESPECIAL
Além de ser difícil estudar o homem, a ignorância que temos de nós mesmos é muito grande. A convivência do homem com o outro homem e não a sua capacidade de raciocínio é que o faz diferente dos animais irracionais. Nesse relacionamento com outros homens, mesmo de mesma espécie, mas de comportamento diferente, o homem tem a possibilidade de, interagindo com o semelhante, crescer ou adoecer, conforme for a sua visão do mundo e de si mesmo. Um exemplo da dependência do ser humano que não ocorre entre os animais irracionais é a capacidade de prover seu próprio alimento. O homem, por não ser provido de instinto, como os animais irracionais terá que, ao longo de sua existência aprender tudo, para sua própria sobrevivência. Ao contrário dos animais irracionais, ele deverá aprender até mesmo a se alimentar no seio de sua mãe. Após este aprendizado, ele deverá aprender como comer comida sólida e assim por toda sua vida. Esse aprendizado ocorrerá de acordo com a vivência comportamental e cultural do individuo. Por conta disso, há lugares em que se comem determinados tipos de comidas que são abomináveis em outros. Alguns comem de garfo e faca, outros de rachi e outros com o uso direto das mãos.
Não seria possível ao pensar ou fazer cultura sem a linguagem. Somente o homem consegue falar e utilizar-se dos símbolos para externar o que precisa. Presente e passado podem ser ligados e futuro pode ser antecipado através da linguagem. A capacidade de pensar, lembrar, elaborar, organizar, abstrair, prever, julgar, planejar, idealizar, está diretamente relacionada com a linguagem. Sem linguagem não haveria interação social e os processos de troca onde ocorre aprendizado teriam que ser vivenciados repetidas vezes. A nossa visão de mundo está também ligada a linguagem.
Há vários mecanismos do comportamento que estão relacionados com a necessidade do homem provoca tensões e essa tensão leva o homem a praticar algumas ações visando alguns objetivos. Ao alcançar o objetivo, suas tensões reduzem. As necessidades são tanto no nível físico como no nível subjetivo. Não alcançar os objetivos almejados faz com que o homem se sinta frustrado. As frustrações geralmente se classificam como frustrações por demora, contrariedade e conflito. Mais comum que as outras frustrações, a frustração por demora acaba sendo absorvida com mais facilidade. A frustração por contrariedade ocorre quando há uma interposição, uma barreira entre nós e nosso objetivo. Essa frustração é dolorosa e mais difícil de administrar. A frustração por conflito surge quando há várias exigências e temos que optar por atender só uma. A fonte corriqueira das frustrações é o meio social em que vivemos. É impossível viver sem frustrações e a frustração continuada pode gerar doenças, como úlceras, pressão alta, asmas, entre outras. Os indivíduos podem reagir à frustração de diversas formas. Os mais comuns são: agressão, agressão deslocada, fantasia, regressão, fixação, apatia, esforço intensificado, mudança dos meios e substituição dos objetivos.
Há ainda os mecanismos de defesa do ego: a racionalização dá-se quando tentamos justificar o que fazemos e em que acreditamos; com a compensação as fraquezas são disfarçadas com a exacerbação de características desejáveis; com a projeção culpamos o outro pelas nossas dificuldades. É uma forma de auto-engano; a identificação é a assimilação das qualidades de uma personalidade que possui o desejado; com a fuga, evita-se a situação que provoca a frustração; com a negação a pessoa se nega a enxergar a realidade dolorosa.
PANORAMA ATUAL DA PSICOLOGIA: AS QUATRO FORÇAS
Com o avanço do conhecimento científico, surgem as escolas de Psicologia: Estruturalismo, Funcionalismo, Behaviorismo, Gestaltismo e Psicanálise. Neste momento ocorre um rompimento com o pensamento que criava um dualismo entre a definição da Psicologia como ciência do psiquismo e uma compreensão dela como ciência moderna.
A Psicologia se divide em dois grandes sistemas: o fechado e o aberto. O primeiro considera apenas o desempenho do homem buscando se utilizar do método experimental em laboratório. Dentro desse sistema está o Behaviorismo ou doutrina E-R (Estímulo-Reação). Os defensores desse sistema mostram grande resistência ao sistema aberto. A Psicanálise é tida como intermediária entre os dois sistemas.
O sistema aberto busca por sua vez uma compreensão do ser humano como algo além de um produto do acaso, ou seja, como um mero fruto de “acidentes” evolutivos. O ser humano seria especial, teria um papel de destaque na teia da existência. Esse sistema procura levar o homem ao crescimento a auto-realização e para isso também procura ver o homem em sua totalidade social, política e econômica, além da cósmica. Dentro dela se encontra a chamada psicologia Trans-pessoal e as teorias de Auto-Realização.
A Psicanálise teorizada por Freud, tem bases nos Filósofos do sec. XIX. Fundamenta-se na teoria do recalcamento (repressão das necessidades). Para Freud o homem é visto dentro de um contexto que abrange o plano biopsicossocial e seria impulsionado a satisfazer instintos tão poderosos que o obrigam a alcançar seu fim por caminhos certos ou tortuosos. Para ele a personalidade é composta por três grandes sistemas: Id, ego e superego, que correspondem respectivamente aos componentes biológico, psicológico e social. O Id é a zona inconsciente com impulsos primários e conteúdos herdados. O Ego é a zona consciente que concilia o Id com o mundo externo buscando o relacionamento com o ambiente. É responsável pela combinação entre a imagem mental e a realidade objetiva. O Superego é a consciência moral, o censor, a voz da sociedade interiorizada, representa normas, valores, e exigências, transmitidos à criança e incorporados a sua personalidade.
Para Freud a atividade psíquica é consciente e inconsciente, sendo a inconsciente a maior parte, sendo uma zona profunda do nosso psiquismo, pouco ou nada conhecida, para onde lançamos conteúdos que não queremos no nosso consciente.
Freud entende que é na infância do indivíduo que é estabelecida a organização da personalidade, sendo nessa fase que se originam as neuroses e psicoses. As frustrações intensas e os efeitos educacionais como super proteção, a instabilidade, o controle rígido, a carência de afeto, levam o indivíduo a angustia, agressividade, revolta, insegurança, timidez, dependência, irritabilidade, nervosismo, etc. Esses comportamentos levarão o individuo a ter formas inadequadas de contato com o ambiente. Conflitos nesse período podem levar mais tarde a desintegração da personalidade que fica dinâmica, mas no inconsciente.
Na infância se adquire os complexos sendo os de importância básica o de Édipo (menino) e o de Eletra (menina), que é a atração pelo genitor do sexo oposto e o ciúme em relação ao outro.
Para Freud qualquer tensão é um recalque ou repressão, que é a mola-mestra da personalidade. O conflito é sempre um choque entre os desejos do Id e a censura. A libido recalcada procura sempre por válvulas de escape: sonhos, arte, cultura, sintomas neuróticos.
O Movimento Humanístico ou Teorias de Auto-Realização valoriza o homem preocupando com o que ele pode vir a ser. As potencialidades humanas são desenvolvidas em condições que podem conduzir o homem a neuroses. Dá ênfase a complexidade e singularidade do homem. O vivenciar ou experienciar é enfatizado, mesmo que pensar, decidir e sentir não sejam processos observáveis. Os estudos humanistas são baseados mais na observação de indivíduos emocionalmente saudáveis do que na de indivíduos perturbados emocionalmente. A auto-realização consiste em fazer de cada escolha uma opção pelo crescimento. A auto-realização é um processo continuo de crescimento, de desenvolvimento das próprias potencialidades, usando a inteligência e habilidades para fazer bem aquilo que queremos fazer.
As Correntes Behavioristas – E-R ou Comportamentistas, teorizadas por Watson e Skinner dão ênfase ao processo de aprendizagem. De acordo com as teorias comportamentistas, é a personalidade é resultado de respostas aprendidas aos estímulos do ambiente. Segundo Dollard e Miller, teóricos desta corrente, os conflitos da primeira infância é resultado do manejo inconsciente dos pais em termos de recompensa e castigo. Skinner acredita que a personalidade não precisa ser explicada em termos de necessidades e motivos.
As teorias de E-R tem base no trabalho de Pavlov e Thorndike. Pavilov teorizou sobre o condicionamento clássico, quando um estímulo neutro é associado a outro estímulo que provoca uma reação forte e incontrolável no sujeito. O estímulo neutro é repetido várias vezes até que somente ele é suficiente para provocar reações no sujeito. Exemplo: campanhinha associada com choque elétrico. O conceito mais conhecido de Thorndike é conhecido como Lei do Efeito que diz que a conexão entre um estímulo e uma resposta é fortificada quando a associação entre eles satisfaz o organismo.
A psicologia Trans-Pessoal surgiu a partir vertentes como os trabalhos de Jung, Einstein, físicos modernos, Filosofia Oriental e as correntes de auto-realização. Movimento novo que trabalha ainda com hipóteses, apresentando poucas conclusões. Está ligado ao estudo empírico-científico das metas.
O PAPEL DO PSICÓLOGO
A noção do ser humano está constantemente sendo transformada e por conta disso, é muito importante compreender o comportamento humano. Nos dias de hoje há conflitos de todos os tamanhos e ordens e a noção de ser humano se transforma a cada dia, o que efetivamente gera mais conflitos. Isso ocorre em função de mudanças culturais, acesso às informações com uma grande facilidade, crises que envolvem o mundo inteiro, tal como as crises do capitalismo entre outros fatores. A busca por uma identidade em um mundo que não é plenamente verdadeiro é extremamente difícil. Aliado a isso, a vida humana é desvalorizada e os bens materiais são valorizados, algumas vezes mais que a vida humana, gerando frustrações e ansiedades além do que conseguimos lidar.
Para tentar auxiliar o homem nesses conflitos geradores de doenças, a Psicologia, beneficiando da evolução de outras ciências, compreendeu melhor até onde o comportamento depende da herança genética e o quanto o homem é dependente do que absorve da sociedade, com valores já definidos e para os quais ele tem que se ajustar.
Há pouco consenso quando se fala em Psicologia e sobre a resolução das questões a que ela se propõe. Muitas premissas diferentes, gerando resultados diferentes. Falta acordo quanto a metodologia e não existe nomenclaturas comuns. Questiona-se a quem ela serve, quem é o normal, quem pode pagar por seus serviços, se ela deve servir ao individuo ou ao sistema. Essas definições ajudarão a entender quem é o patológico e quem não é.
1 Resumo do livro O QUE É PSICOLOGIA de Maria Luiza Silveita Telles.
2 TELES, Maria Luiza Silveira. O que é Psicologia. São Paulo: Brasiliense, 2003. p. 10
3 Como aprendemos? Como se dá o desenvolvimento da criança em diversos aspectos? O que é crise da adolescência? Que fatores influem no desenvolvimento? O que são emoções? Elas são inatas ou aprendidas? Por que nos lembramos e nos esquecemos? Como se desenvolve o pensamento? Qual a ligação entre pensamento e linguagem? Como se da a resolução de problemas? Qual a influencia do grupo sobre o individuo? Como se desenvolve a personalidade? Como se da a percepção? Quais são os fatores responsáveis pelos diversos tipos de retardamento mental? O que motiva o comportamento? Como explicar as diferenças individuais? Quais as causas dos desvios de comportamento? Como atuar sobre os desajustamentos? Qual a influencia dos valores e das atitudes na percepção dos indivíduos?