Análise do filme “Os Narradores de Javé”

16/03/2012 12:18

   
    O Filme “Os Narradores de Javé” conta a história de um povoado, que prestes a ser inundado como conseqüência da construção de uma represa, decide colocar em um livro a sua história, de modo que pudesse servir como mecanismo para impedir que o povoado fosse submerso pelas águas da represa.

    A história deste povoado circulava através da tradição oral, contada ao longo dos anos, sem a preocupação de se deixar um documento escrito para a posteridade. Um dos personagens deste povoado tem então a idéia de usar a história escrita para tentar convencer os responsáveis pela construção da represa a não levar adiante o projeto de construção. Com a concordância de todos, uma pequena comitiva vai a busca de um personagem, até então proscrito, mas com facilidade em escrever histórias, para que o mesmo redigisse a história de Javé.

    Depois de acertado os termos da confecção do livro, o escritor vai de casa em casa, buscando na memória de cada um, elementos da história de Javé.

    Há pelo menos duas situações muito interessante no que se tornaria a história de Javé. Em dado momento, o escriba, após contar a façanha da captura de um boi, sendo interpelado pelo seu entrevistado, profere a seguinte sentença: “Uma coisa é o fato acontecido, outra coisa é o fato escrito. O acontecido tem que ser melhorado no escrito de forma melhor para que o povo creia no acontecido.”

    Há que se pensar se na história escrita da humanidade não houve esse mesmo processo. Será que no período das grandes navegações, a história se deu tal como se deixou escrita para a posteridade? Indo um pouco além, em forma  de retrospecto, será que o que está escrito no texto bíblico não poderia ter sofrido este mesmo tipo de ação por parte do escritor? Poderia ter sido a história de David, derrotando o gigante exatamente como está escrita, ou teria sido um acréscimo do autor do Texto? Até mesmo na construção dos livros do Pentateuco, há uma percepção de que redator compila textos, os quais, cada um por sua vez descreve situações que podem não ter sido exatamente como está escrito. Não sei se me atrevo e me adianto demais, todavia, parece-me que isto acontece quando em alguns momentos percebemos um texto ser direcionado de forma a se adequar às tradições Javistas, Eloístas ou Sacerdotal.

    Finalizando esta observação, no que se refere a mudança da história para que, de modo mais dramático fosse crida pelos que a lessem, é possível perceber no filme, algo muito semelhante aos escritos bíblicos, onde o entrevistado do escritor, ao dizer seu nome pensa por alguns segundos e resolve inserir em seu nome o nome do grande personagem do Vale de Javé. Talvez fosse essa uma tentativa de dizer: “minha história é verdadeira, pois quem a conta, traz em seu nome o nome de quem a vivenciou.”

    A segunda observação a se fazer, está em um momento do filme em que uma mulher começa a relatar a história. Nesse momento, o personagem histórico contato pelo primeiro entrevistado, perde sua posição de destaque para que uma mulher seja a verdadeira heroína do povoado de Javé. Há um momento em que a mulher diz que o entrevistado anterior “deve ter contado puxando pro lado dele”.

    A partir daí, a mulher conta a história do povoado segundo a ótica de uma certa Maria Dina, mulher guerreira, destemida, que está a frente de seu povo e que determina as medidas de toda a terra habitada pelos habitantes do vale de Javé. Na sua descrição, a personagem enaltece os feitos de Maria Dina, fazendo questão de dizer que a mesma fora esquecida pelo simples fato de ser mulher. Essa mesma Maria Dina, descrita como uma mulher guerreira, líder e que foi determinante para o estabelecimento do povoado do Vale de Javé, e vista como uma louca que já vivia por lá, quando a história é contada por um homem. Os elementos que constituem a composição da personagem Maria Dina são jocosos, preconceituosos e difamadores, não merecendo a personagem nada além do desprezo e do medo da convivência com uma criatura tão desprovida de coerência.

    Mas uma vez, penso que há histórias no texto bíblico que podem ter sido contadas sob esse mesmo tipo de lente. Se contada por homem, enaltece o homem. Se contada por mulher, enaltece a mulher. Por homem e mulher, entendam-se grupos de homens ou de mulheres.  Há que se pensar que tipo de destino teria histórias como a descrita no livro de Rute se o mesmo fosse escrito por um homem que valorizasse o macho em detrimento da fêmea.

    Finalizando, o filme é interessante por mostrar que assim como a história de Jávé é contada a partir da tradição e da cultura de um povo, o texto Bíblico, escrito por mão de homens, pode ter passado por esse mesmo processo de construção. A história de Jávé, dos Narradores de Javé, não deixa de ser a palavra de Javé por ter sido escrito por alguém que não vivenciou esta história, assim como a história do povo de YAHVEH não deixa de ser palavra de YAHVEH por ter sido escrito por homens que vivenciaram suas vidas cotidianas, com suas experiências com Aquele a quem julgavam ser o Eterno, mesmo que tenham inserido nessa escrita, características pessoais, culturais, sociais, entre outras.
 

A história de um povo

Conte a história de um povo
do jeito que o povo é
conte a história de novo,
repita-a uma, duas ou três,
se precisar relembrar
conte-a mais uma vez.

Fale dos grandes feitos

mesmo que sejam pequenos
conte as qualidades e defeitos
mesmo que não seja do jeito
que na realidade o povo é.

Pense em um grande nome
em alguns momentos basta que seja
o nome de um grande homem
mas em outros não basta
pois nome de homem se gasta.

Melhor pensar em um nome
daquele que é o que é
um nome forte, potente
o nome do Deus imponente
por vezes até inclemente
pode ser o nome Javé

Conte a história do povo
do povo que é de Javé
que luta as lutas por eles
que abre os mares sem tê-los
e que derruba os muros
formado de pedras de medos.

Retire da história do povo
o nome do Deus Javé
retire a fé desse povo
e o povo volta de novo
a ser somente o que é.
 

 

Faça um comentário sobre a Análise do filme “Os Narradores de Javé”

Narradores de javé

Vitoria | 25/04/2019

Qual a importância da tradição oral para um povo?

narradores de javé

ynarai melo | 23/03/2019

qual a identidade cultural dos personagens do filme e como as coisas e acontecimentos da cultura javélica se classificam de acordo com o espaço e tempo?

A cultura do povo de javé

Layane silva | 17/10/2018

Queria saber qual era a cultura desse povo,porque não vi nenhuma.

Re:A cultura do povo de javé

Yuri | 13/03/2019

Primeiro você precisa saber o que significa cultura, depois você pode buscar. Como você quer encontrar alguma coisa que nem mesmo sabe o que é?
Dica: Pesquise e entenda o conceito de cultura, tenho certeza que isto será suficiente para você responder à sua questão. =D

Sobre o conceitos geográfico

Flora | 25/03/2018

Quais são os conceitos geográfico nesse filme ??

Re:Sobre o conceitos geográfico

Iscariotes | 26/03/2018

Trabalho do Borba também né

Vale de jave

bruna | 08/11/2017

Como o relato dos moradores de javé nos permite conhecer o passado histórico da cidade de javé? ?

Cena de maior inpacto

Manoela | 31/10/2017

Narradores de javé

Ajuda!

Camily | 04/10/2017

Me ajudem pessoal, presiso elaborar um relatório observando os aspectos culturais sociais e econômicos.

Tartaruga

Ze piroca | 06/09/2017

Faltou o uso de tartarugas no filme tartarugafobia !!!!! Machista taxista de estrema direita escória de baixo escalão

1 | 2 | 3 >>

Novo comentário