A reconstrução Histórica de Jesus - Resumo e crítica
Resumo1
O autor fala sobre o Jesus real, o da história e o da fé, sendo o da história o mais importante no texto. Sobre Jesus só dispomos como fontes os evangelhos e são fontes lacunares, pois o interesse dos primeiros cristãos era centrado na ressurreição e soberania, não havendo preocupação em se descrever fatos históricos. As tradições cristãs mais antigas tiveram por base o Cristo Senhor e o Cristo ressuscitado. Por conta dessa preocupação, o conhecimento que temos de Jesus é parcelar. O Jesus da fé é o que está vivo pela confissão de fé de quem nele crê. O Jesus real é o personagem que viveu na virada da era cristã e do qual perdemos contato em função da sua morte. Só há uma vaga aproximação que nos aponta para o Jesus da história. Do ponto de vista de um historiador, as fontes existentes, os evangelhos, não oferecem um bom perfil do personagem Jesus. Fala-se muito mais do Cristo do que de Jesus, podendo nos levar a atribuir ao Jesus histórico atitudes, gestos ou palavras que dependem do Jesus feito senhor na dimensão de Deus. Há que se fazer uma triagem e separar o que é histórico do que é descrito nos evangelhos. O historiador pode abordar os relatos antigos a partir da experiência da vida humana na sua essência, interpretando o passado e lendo as fontes, usando a contemporânea da vida como critério fundamental. O segundo pressuposto consiste em distinguir nos evangelhos o Jesus da história do Cristo da fé. Os critérios de historicidades que um historiador tem são o critério do embaraço, risco de ser histórico o que era difícil de se transmitir; critério da descontinuidade, risco de ser histórica a originalidade de Jesus em relação a religiosidade de sua época; atestação múltiplas, risco de ser histórico o que é repetido sob diversas formas e de modos independentes; e da coerência, risco de serem históricos os elementos que podem ser reunidos num todo harmonioso. Após traçar o perfil do Jesus da história, precisamos situá-los em relação à fé cristã. Somente a fé pode justificar as palavras ditas sobre ela assim como somente a história pode justificar as palavras ditas sobre a história, nesse caso, não é possível encontrar um Jesus histórico quando se está a busca de um Jesus da Fé. As descrições dos lugares, datas, pessoas, acontecimentos, nos apontam para um Jesus histórico que participou ativamente da história do seu tempo. Mas a visão desses eventos deve ser lida pela lente da fé. O templo que foi destruído como Jesus havia predito é um fato histórico, mas os motivos pelos quais ele foi destruído passa pela ótica da fé em um Deus que estabelece que o seu templo não deve ser tratado da forma como era tratado.
Crítica
O autor passa a necessidade de reconhecermos o que é histórico e o que é fruto da fé, no que se refere a pessoa de Jesus. O texto nos faz compreender que toda divinização de Jesus se dá a partir do momento da sua morte e ressurreição. Antes disso, ele era um judeu comum com tantos outros da sua época. Podemos então perceber que Jesus nasce e vive por um período como histórico, para mais tarde ser reconhecido como o Cristo da fé, pois somente após a sua morte é que ele é feito senhor. As evidencias da ressurreição de Jesus não passam por testemunhas humanas, sendo um evento de real, não histórico, mas que influencia a história. Não, dessa forma, dificuldades em entender a ressurreição por meio da fé, pois é através da fé que a ressurreição gera o conteúdo confessional para o cristianismo da época e o contemporâneo. Ele é claro em descrever a influencia desse Jesus histórico no cristianismo Helênico, de Jerusalém e da Galiléia. Ele demonstra claramente, que os eventos que se seguem ao Jesus da fé, podem não ser de cunho real, mas não são históricos, todavia, o evento da ressurreição, por exemplo, mesmo não sendo histórico, tem influencia na história, na medida em que pessoas vêem Jesus ressuscitado. Nesse ponto, acho confusa a abordagem do autor, visto que as informações sobre os personagens a quem Jesus aparece após ressuscitar estão contidas nos evangelhos, e estes informam acerca daquele que foi considerado o cristo da fé e não o da história. O autor afirma que o Jesus da história é o objeto principal do texto, entretanto, não percebi que o mesmo se dedicasse a essa abordagem, não como se pressupunha. Acredito que haja uma grande dificuldade de se definir onde começa o Jesus da fé e o da história2, tendo em vista que as considerações sobre os dois encontram-se em textos que não se prestam a ser um relato histórico, mas um relato pelos olhos da fé no Cristo que morreu, ressuscitou e se fez senhor. O próprio autor deixa claro que fora dos evangelhos há poucas referências dignas de crédito que possam assegurar aos historiadores uma visão histórica do Cristo, tendo em vista que o que há nesses textos, sejam eles do historiador Flávio Josefo, ou dos escritos apócrifos, não são declarações que ensinem mais do que já se ensina nos evangelhos. Logo, considerando que para o autor os evangelhos não apresentam conteúdo histórico, tendo sido formados a partir de relatos do que se sabia de Jesus e não do que se realmente existiu, as três fontes citadas por ele como importantes para delinear a historicidade de Jesus se tornam por si mesmas insuficientes para o resgate dessa historicidade. Finalizando, o texto, sob o meu ponto de vista é muito mais esclarecedor dos feitos do Cristo da fé, do que de qualquer outro aspecto da existência de Jesus.
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1 Resumo e crítica do texto escrito por André Myre.
2 Este é um tema pesquisado pela Teologia Bíblica do Novo Testamento. A conclusão que muitos teólogos encontraram foi a de não dividir, de forma racionalista, o Cristo da Fé do Jesus Histórico - Ambos se fundem. (Professor Marcio Simão de Vasconcellos)