Os Sinóticos e os Atos dos Apóstolos - Resumo e crítica

12/06/2011 21:40

Resumo1

O texto mostra o grande número de relatos semelhantes entre os sinóticos. Os textos foram formados a partir da ótica da ressurreição de Jesus e os discípulos interpretaram a ressurreição como uma prova de que a missão do mestre havia sido aprovada por Deus. A princípio, convencidos de que o fim dos tempos havia chegado e de que Jesus voltaria em breve, produziram textos que mostrassem que aquele Jesus crucificado era o messias e que ele havia ressuscitado. Este era o cerne da primeira pregação e a adesão a nova fé correspondia ao modo de viver dos convertidos. Para ensinar ao povo, buscavam a orientação do Espírito de Cristo e isso significava perguntar: “O que Jesus faria nestas circunstancias?”. Esta iniciativa levou os discípulos a não adaptar cenários conhecidos a situações novas, mas também criá-los com todas as peças. A primeira pregação se concentrou na proclamação do Cristo ressuscitado, tendo que ser ampliada para suprir ás novas necessidades. Em primeiro lugar, trataram de ensinar acerca da fé, escolhendo os relatos do túmulo vazio, das dez virgens e dos discípulos de Emaús. Em segundo, ensinaram acerca do comportamento, e nesse caso os relatos dos pastores, do bom samaritano e do modo de seguir Jesus se encaixam perfeitamente. O relato do túmulo vazio, encontrado nos três evangelhos sinóticos, fundia dois eventos diferentes: Após o sábado, as mulheres visitam o tumulo a fim de recolher o corpo, como era de costume dos judeus, chegando lá, constatam que o túmulo estava vazio, pensando que alguém o havia roubado. Resolvem contar aos discípulos, quando chegarem a Galiléia. Os discípulos já haviam voltado à rotina de trabalho, quando Jesus lhes aparece vivo, mesmo que eles ainda ignorassem todo o assunto sobre o túmulo vazio. Dos dois eventos anunciados primitivamente em separado, acabam sendo posteriormente associados para estabelecer um único ensino. Há relatos, como o das virgens que provavelmente não é contemporâneo de Jesus, sendo escrito por volta do ano 85 e foi último por a comunidade primitiva já começava a duvidar da volta repentina de Jesus. O assunto tratado ali reforçava a necessidade de aguardar preparado a volta do noivo. O relato dos discípulos no caminho de Emaús servia para reanimar a fé vacilante de alguns e ensinar que o lugar de encontro de Jesus eram agora, as Escrituras e a Eucaristia. Relato dos pastores em Lucas serve para trazer o personagem Jesus para uma relação com os marginalizados. Pastores, por precisarem lidar no sábado, eram colocados numa lista negra sendo considerados pecadores impuros. O texto do bom samaritano serve para dar um ensinamento ético e ainda reeducar acerca da relação com os marginais. A palavra sobre o modo como se deve seguir a Jesus em Marcos, é interessante, pois fala de cada um tomar sua cruz e seguir o mestre. Esta palavra não poderia ser dita por Jesus, antes de sua morte e ressurreição. Esta palavra servia para mostrar que na perspectiva do evangelho e da fé cristã, perder a própria vida pelo evangelho é equivalente a salvá-la. Algumas hipóteses são levantadas sobre os sinóticos. Citarei algumas.  Há hipóteses que apontam para a escrita dos evangelhos sem recorrer a nenhum outro documento além dos próprios evangelhos. Para os defensores dessa hipótese, das diversas combinações possíveis entre os três sinóticos, resultam seis esquemas, cada um com seu promotor.  Outra hipótese fala de um evangelho primitivo longo que teria dado origem aos sinóticos. Há ainda outra hipótese que aponta para uma fonte, chamada de evangelho primitivo curto que daria origem a três fontes e essas dariam origem aos sinóticos. Há a hipótese de duas fontes que deram origem participativa direta aos três evangelhos. A evolução desta teoria aponta para o que é hoje fonte de estudos, onde se crê que os sinóticos tiverem como fonte Marcos e outra fonte chamada de Q (Quelle). Nesse caso Mateus e Lucas se utilizam de Marcos e da fonte Q para escrever seus textos. Os Atos dos Apóstolos é a continuação de Lucas. Este encontra seu desfecho naquele.

Critica

O texto é muito esclarecedor, quando mostra a possibilidade de entender a palavra de Deus não como o resultado da automação do escritor, mas como resultado da participação do Divino com o humano, passando pela sua cultura e história de vida. É interessante por mostrar temas que jamais teriam sido discutidos nos tempos de Jesus.  Perceber como o os textos dos evangelhos sinóticos foram formados, a partir não de fatos anotados in locu, mas a partir da vivência, da experiência e da tradição passada verbalmente, em minha opinião, faz com que o texto seja  mais rico de conteúdo, pois nos faz perceber a riqueza de um texto que não foi escrito como um livro de memórias, mas como um revelador da fé de um povo que começava a formular suas percepções acerca da sua própria fé. Se por um lado o conhecimento do texto, tal como obtivemos nas nossas comunidades de fé locais, se choca com o que vemos aqui (perceber, por exemplo, que Jesus não disse o que disseram que ele disse), por outro lado o que se nos mostra agora, é de grande valor para ampliar o leque de possibilidades a cerca do que é central nas palavras de Jesus, nos fazendo ir além do que é periférico. Enxergar os sinóticos a partir da ótica apresentada no texto nos faz entender que as preocupações das primeiras comunidades cristãs iam alem de simplesmente contar um fato histórico, mas estabelecer ensinamentos que pudessem manter os fiéis convictos das coisas que o mestre havia apregoado. O conhecimento acerca das possibilidades de fontes para os escritos sinóticos também nós leva a entender algumas particularidades do texto, que sem esse conhecimento levantam algumas dúvidas, das quais os textos sinóticos não são capazes por si só de elucidar. A semelhança existente ente os sinóticos, passa a ter outra conotação após a leitura do texto em questão. Se antes a visão que se tinha era que as semelhanças se davam por conta dos escritores terem acompanhado de perto a trajetória de Jesus, agora a visão se amplia e indica que as semelhanças possivelmente existem em função das fontes utilizadas serem as mesmas. A declaração do autor sobre como os escritores escreveram os sinóticos a partir das interrogações sobre o que Jesus faria em determinadas circunstancias, é na minha visão, a percepção que todo cristão deveria ter ao intentar realizar alguma coisa. Esta postura, descrita pelo autor, no lugar de ficarmos definindo que tudo acontece “pela vontade de Deus”, nos coloca na posição de participantes dessa vontade, interagindo com Deus na construção da nossa fé, fazendo com que esta fé seja melhor estabelecida no contexto da nossa existência.

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1 Resumo e crítica do texto escrito por Odette Mainville