Cristologia da comunidade Joanina - Resumo e Crítica

21/08/2011 18:46

Resumo

O texto discorre sobre os escritos e ensinos a comunidade Joanina, sobre o conceito de cristologia e sobre como Jesus Cristo foi aguardado e efetivamente recebido e apresentado. A comunidade Joanina aguardava um messias político, descendente de David que instaurasse o reinado e combatesse os inimigos, restaurando também o culto no templo. Nada disso aconteceu, o que era anunciado como messias foi morto, o templo destruído e nem reino nem sacerdócio puderam ser restaurados. O que sobrou de toda essa esperança messiânica residia somente nos fariseus que constituíram um centro de estudo da Lei, e os cristãos. Havia uma antagônica relação entre os dois, tal como uma briga de família. O autor fala sobre os três escritos joaninos: evangelho, cartas e apocalipse, fazendo uma conexão entre os três. Segundo o autor, a cristologia encontrada no apocalipse lança luz sobre o evangelho e as cartas. O evangelho fala de um cristo diferente do esperado. É um personagem humano, filho do homem, sofredor e que em última instancia está na cruz abandonado pelo pai. O autor divide a vida de Jesus em cenas que podem ser usadas de forma didática no ensino do evangelho. Na primeira cena Jesus é mostrado como messias não necessariamente com este termo. Os discípulos de João Batista reconhecem Jesus como seu mestre. Este mestre é o que faz conexão com os profetas. O próximo quadro fala do milagre de Caná, onde Jesus inicia seus sinais manifestando sua glória. Nesta cena, ao contrário das outras que mostravam títulos como o cordeiro de deus, rei de Israel e filho do homem. Em cana a cristologia é expressa através de símbolos: abundancia de vinho nos tempos messiânicos, esposo messiânico e a figura da mãe introduzindo o filho. No quadro seguinte a cristologia é mostrada com a narrativa da expulsão dos vendilhões do templo. No próximo, há uma discussão com Nicodemos acerca do novo nascimento. No quadro seguinte, a mulher samaritana, herege, adultera, sincrética, conforme os costumes judaicos é a interlocutora de Jesus. A esta, Jesus dedica uma atenção surpreendente, falando com ela a sós e pedindo de beber do seu recipiente, para mais tarde fazer um jogo de palavras com água da mina/vida. Essa conversa faz Jesus surgir como profeta, o que para os Samaritanos era uma figura messiânica. João mostra cristo acima do sábado, quando cura um aleijado. As atividades no dia de sábado geram um conflito cristológico, pois o messias, redentor de Israel, jamais deveria fazer esse tipo de ação no sábado sagrado dos Judeus. Além disso, Jesus chama a Deus de pai, o que não chega ser uma blasfêmia, mas ser chamado de filho do homem, isso sim é problemático. A cura que Jesus opera é um símbolo cristológico, pois o coloca na posição de filho de Deus, senhor da vida e também filho do homem que outorga vida aos que crêem. Os elementos dos milagres, da morte e da ressurreição também são mostrados como indicadores da cristologia. No Apocalipse, livro dirigido à igreja que estava sendo assolada por dificuldades, encontramos uma relação de consonância com os evangelhos e cartas, onde podermos encontrar o Cristo como Palavra de Deus, Filho do Homem, Cordeiro, rei de Israel e de todos, entre outros.    


Critica

No texto o autor faz uma relação interessante entre todos os escritos de João fazendo uma ponte entre os eventos do evangelho, das cartas e do apocalipse. Essa relação que o autor faz dos escritos joaninos acrescenta a meu ver a idéia da inspiração do texto sagrado não como um ato autômato, mas como um ato relacionado com a história de um povo, de seu tempo, de suas realidades, de suas circunstâncias. É possível perceber através do texto que em alguns momentos só é possível perceber a cristologia de um escrito Joanino quando se procura essa cristologia em outro. A alusão que o autor faz da relação de Deus, que ama toda humanidade de forma incondicional e Jesus que ama incondicionalmente a ponto de se doar, mostra de forma clara, que ainda que cruenta, a cruz é a melhor forma da revelação desse amor, tanto de Deus quanto de Jesus e é na cruz que a glória perdida do Deus filho que se tornou homem retorna para ele e o insere novamente no plano da divindade, após ter conhecido a humanidade não somente como criador, mas como alguém sentiu na carne os sofrimentos da existência humana. Por vezes o autor demonstra que os escritos Joaninos, mas precisamente no evangelho mostra características de alguém que está sempre disposto a ensinar, revelar ao homem acerca da experiência de salvação através da aceitação do filho do homem e não do filho de David como messias. Essa visão traz uma perspectiva diferente do que eu via dos escritos Joaninos, pois até a leitura do mesmo a percepção que eu tinha era de que Jesus queria sim ser conhecido como messias de Israel, e somente Israel não o teria reconhecido. Sob o ponto de vista do autor, Jesus não está preocupado na forma em como ele será conhecido, mas somente em fazer a vontade daquele que o enviou. Por fim, o texto é claro em mostrar que tanto no evangelho e cartas, que ajudaram aos fiéis resistirem às ameaças da globalização cultural helenística, através do gnosticismo quanto no apocalipse que ajudou a comunidade Joanina a suportarem a pressão político-religiosa sofrida sob o imperador Domiciano, tiveram um papel fundamental nessas circunstancias, fazendo com que uma comunidade acuada, perseguida, ameaçada pudesse ter sua necessidade de coerência interna, onde ficasse claro que somente subsistiriam a todas essas situações se permanecessem coesos através de um amor fraterno que transcendia o amor de irmãos-povos que eles conheciam até então. Em última instancia era preciso estar unidos para suportar as adversidades por parte tanto dos Judeus zelosos, quanto dos imperadores tiranos.